A presença de toxinas não é incomum, sendo o envenenamento um dos principais motivos de morte de um grande número de pessoas ao longo da história. Venenos como o arsênico foram usados durante os tempos antigos e na Idade Média para cometer assassinatos, e ainda hoje existem armas químicas usadas em conflitos de guerra. Também usamos venenos para matar outras criaturas, como venenos para ratos ou inseticidas.
A existência de um certo medo de envenenamento num determinado momento pode, portanto, ser bastante racional. Mas a maioria de nós nunca será envenenada. Talvez alguma intoxicação alimentar ou intoxicação por drogas, mas a morte por envenenamento não é tão comum. Porém, para algumas pessoas, esse medo existe de forma persistente e se transforma em pânico incontrolável, que as leva a evitar situações e estímulos e limita muito a sua vida. Isto é o que acontece com aqueles sujeitos com toxicofobia.
Toxicofobia como uma fobia específica
É considerada toxicofobia, toxifobia ou toxofobia quando medo irracional ou exagerado de veneno ou de ser envenenado (geralmente acidentalmente). Esta é uma das chamadas fobias específicas, em que se gera intenso medo ou ansiedade diante de um estímulo específico. Essas sensações provocam em quem as sofre uma intensa necessidade de fugir do estímulo, bem como de evitar tanto a exposição a ele quanto as situações em que ele possa surgir.
Esse pânico é persistente, não desaparece por si só e ocorre sempre que há exposição ao estímulo em questão. Esse medo geralmente é desencadeado pela presença do próprio estímulo, mas a mera imaginação ou o pensamento sobre o elemento que causa o medo pode desencadear reações de angústia e sintomas fisiológicos.
Entre os sintomas mais comuns, encontramos taquicardia, hiperventilação, sudorese e tremores, que podem levar a uma crise de ansiedade. No nível cognitivo, a atenção está focada no estímulo e em evitá-lo, reduzindo as habilidades cognitivas e de julgamento e planejamento. Em casos extremos, podem até surgir alucinações, como um paroxismo nervoso, em que podem sentir gosto de veneno ou algo tóxico na comida.
Embora não seja comum ver e reconhecer algum tipo de veneno, a toxicofobia pode limitar seriamente a vida de quem a sofre. Se ocorrer em grau leve, pode surgir o medo dos próprios venenos, evitando o uso ou exposição a venenos como o veneno de rato. Mas dependendo do grau, esse pânico pode se estender ao consumo de produtos de limpeza, solventes, medicamentos e praticamente qualquer tipo de produto químico com potencial nocivo. Também pode gerar suspeitas no manuseio de bebidas ou alimentos ou, em casos extremos, no contato com outras pessoas que possam nos envenenar.
Link com outras psicopatologias
Um aspecto interessante da toxicofobia que vale a pena destacar é sua possível ligação ou confusão com elementos de outras psicopatologias e sintomas, como delírios persecutórios ou alucinações gustativas em diferentes condições e estados de tipo psicótico, como esquizofrenia, transtorno delirante ou intoxicação por substâncias (neste caso, estaríamos falando de intoxicação real). Às vezes também pode ser confundido com transtorno obsessivo-compulsivo, naqueles indivíduos com obsessões ligadas a germes e com compulsões de limpeza e lavagem.
Nesse sentido, deve-se destacar que a toxicofobia envolve um medo desproporcional da ideia de ser envenenado ou da presença de venenos e pode levar à evitação de situações em que possam existir elementos tóxicos ou à percepção de uma grande possibilidade de sendo envenenado.
O medo desproporcional de ser envenenado também é comum em pessoas com delírios persecutórios, mas neste caso não estaríamos falando apenas de um medo, mas de a crença persistente e fixa de que alguém está tentando nos matar dessa maneira (às vezes há alucinações gustativas que interpretam como confirmação dessa crença). Ou em pessoas com TOC ligado a germes, doenças e limpeza, a ideia do aparecimento desses elementos pode causar profunda ansiedade.
A ideia de que estão tentando nos matar, a preocupação com os germes e doenças que podem causar, ou o pensamento de que algum tipo de infortúnio pode acontecer se não cumprirmos a compulsão pode gerar o surgimento de uma profunda aversão e pavor de exposição. a elementos como venenos ou toxinas, buscando evitá-los por meio de compulsões (embora o TOC de limpeza geralmente esteja ligado a germes para limpar e não a toxinas como produto químico).
Porém, devemos ter em mente que para falarmos de fobia, o medo deve ser irracional ou desproporcional. Nestes casos, o medo seria consistente com a presença de pensamentos repetitivos e intrusivos ligada à questão ou à crença de que alguém está realmente tentando nos matar ou nos prejudicar. As diferentes classificações diagnósticas estipulam, neste sentido, que uma fobia como a toxicofobia só é diagnosticada na ausência de outros distúrbios que expliquem melhor o medo e as reações ao estímulo temido.
Causas: um medo com significado adaptativo
As causas da toxicofobia, assim como de outros transtornos mentais, não são completamente conhecidas. Apesar disso, existem várias hipóteses altamente plausíveis quanto à sua origem.
Uma hipótese possível é a existência de condicionamento: ao longo da vida vimos e recebemos notícias de pessoas que morreram por envenenamento, seja acidental ou voluntário. É até possível que tenhamos visto ou vivenciado uma situação em que nós ou um ente querido fomos envenenados. Nesse sentido, a pessoa com toxicofobia poderia ter adquirido um medo condicionado por experiências passadas seja vivenciado em primeira mão ou indiretamente por meio da visualização de um caso de intoxicação (seja por observação direta, leitura ou meios audiovisuais).
Outra hipótese bastante plausível é a mesma que normalmente se sustenta em relação ao medo de diferentes animais e plantas: a teoria da preparação de Seligman. Essa teoria propõe que o medo intenso de alguns estímulos seria preparado filogeneticamente, sendo herdado de nossos ancestrais quando tiveram que enfrentar situações de vida ou morte. Por exemplo, o ataque de um predador, a picada de uma aranha ou o consumo de certas ervas podem causar a morte. Dessa forma, nossa espécie teria aprendido a evitar uma série de estímulos e a sentir um medo ou repulsa inato por eles.
Embora no caso da toxicofobia o elemento em questão seja muito genérico (na natureza não encontramos veneno solto, mas sim proveniente de animais ou plantas), poderíamos estar enfrentando uma generalização desses medos ligada à ideia de morrer ou adoecer devido a um agente externo não diretamente visível. Obviamente, evitar elementos tóxicos é adaptativo e permite-nos sobreviver, pelo que o medo de sermos envenenados poderia ser largamente explicado por esta teoria.
Tratamento deste distúrbio
Um dos tratamentos mais comuns no combate às fobias é Terapia exposta. Trata-se de colocar o sujeito em situações em que ele terá que enfrentar seu medo, geralmente de forma gradativa após ter feito uma hierarquia das situações temidas entre terapeuta e paciente. No caso da toxicofobia, obviamente o sujeito não vai se expor a ser realmente envenenado, mas é possível trabalhar com situações evitadas relacionadas a esse medo.
Por exemplo, o sujeito pode ser exposto a beber em grupo ou em uma boate se esta situação gerar medo de envenenamento pela bebida. Você também pode estar exposto ao uso de componentes químicos, como produtos de limpeza. Outro item possível seria manipular garrafas ou venenos comumente utilizados, como inseticidas ou venenos para ratos.
A discussão sobre crenças e medos, bem como o significado atribuído ao veneno e as crenças que podem estar por trás do medo dos venenos ou de ser envenenado, também pode ser útil. Geralmente eles seriam usados procedimentos de terapia cognitivo-comportamental como a reestruturação cognitiva.
Da mesma forma, é imprescindível a realização de um bom diagnóstico diferencial, devido à alta probabilidade de confundir a fobia de toxinas ou de ser envenenado com a crença de estar envenenado, típica de alguns sujeitos com algum tipo de patologia psicótica ou obsessão por limpeza. de alguns tipos de Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
Referências bibliográficas:
- Associação Psiquiátrica Americana. (2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Quinta edição. DSM-V. Masson, Barcelona.