Uma das piores armadilhas em que podemos cair ao decidir como queremos viver é presumir que só nós influenciamos o nosso próprio bem-estar. É por isso que o conceito de bem-estar socioafetivo é tão importante. Ao longo deste artigo veremos em que consiste o bem-estar socioafetivo e por que é um conceito central tanto da psicologia quanto das ciências sociais.
O que é bem-estar socioafetivo?
O bem-estar socioafetivo é o conjunto de fatores biológicos, contextuais e relacionais que nos permitem sentir bem, num sentido global e holístico. É, em suma, sentir-se bem consigo mesmo e com o contexto material e social em que vive.
É importante ter em mente, por exemplo, que pessoas que têm todas as necessidades básicas atendidas (ou seja, aqueles que têm a ver com a manutenção de um bom estado de saúde em tempo real, ou a muito curto prazo) podem sentir-se muito mal por vários motivos: um ambiente de trabalho em que prevalecem as punições, uma vida social deficiente, etc.
É por isso que, tal como as perturbações mentais não são simplesmente vividas “de dentro para fora”, mas o ambiente também influencia a forma como vivemos, o mesmo se aplica ao nosso bem-estar.
O conceito de bem-estar socioafetivo faz com que a felicidade e a saúde deixem de ser fenômenos que devem ser tratados individualmente para fenômenos muito mais complexos, para os quais também conta a gestão pública e coletiva do meio ambiente. Consequentemente, a administração pública também tem o dever de se preocupar com esta questão.
Elementos contextuais que influenciam isso
Para ajudar a compreender melhor em que consiste o bem-estar socioemocional, é bom rever alguns exemplos de aspectos do nosso ambiente que influenciam isso. Vamos vê-los.
1. Presença ou ausência de abuso
Este é um elemento muito importante, ainda mais considerando que o abuso nem sempre é físico nem leva a lesõesmas pode se tornar psicológico e muito sutil.
2. Quantidade de estímulos sociais e ambientais
Morar em um lugar com uma variedade muito rica de novidades e estímulos não é a mesma coisa que morar em uma cabana solitária no meio do deserto. Em última análise, monotonia e falta de notícias deixam marcas na saúde mental.
3. Presença ou ausência de discriminação
A discriminação continua a ser um problema social muito presente que atinge vários grupos em situação de vulnerabilidade. Portanto, tem impacto no bem-estar socioemocional das pessoas que sofrem esta discriminação em primeira mão e, em menor medida, no dos restantes cidadãos, que têm provas de a fragilidade do tecido social em que vivem.
4. Presença de uma cultura de apoio
A solidariedade permite que as pessoas menos afortunadas recebam ajuda daqueles que estão em melhor situação. Como consequência, É uma lógica que vai na direção oposta ao individualismoe baseia-se numa concepção coletivista de sociedade na qual o bem-estar socioafetivo é de grande importância.
Bem-estar socioafetivo nas fases vitais
As necessidades às quais o bem-estar socioafetivo deve responder evoluem à medida que passamos pelas fases da vida. Vejamos vários exemplos disso.
Infância
Durante a infância, o contato físico com o pai ou a mãe torna-se especialmente importante, bem como a existência de uma comunicação rica tanto no conteúdo quanto na carga emocional que se expressa através de gestos e linguagem.
Além disso, é importante ter um ambiente rico que promova o aprendizado e o desenvolvimento da curiosidade.
Adolescência
Na adolescência, o fato de ter relacionamentos saudáveis com membros do grupo de pares (amigos e colegas de classe). Nossa própria identidade e autoestima se desenvolvem, em grande medida, dependendo de como as outras pessoas nos tratam.
Pós-adolescência
Aproximadamente dos 15 aos 20 anos de idade, a necessidade de desenvolver uma vida independente e perceber a própria autoeficácia. Saber que você é capaz de fazer tudo o que os adultos fazem permite que você se sinta parte da sociedade.
Idade adulta
Aproximadamente dos 20 aos 45 anos de idade, os problemas sociais e as preocupações intelectuais tornam-se mais importantes. Acesso à cultura, para poder aprender de forma autodidata, ganham forças, pois buscam cultivar o próprio conhecimento. Ao mesmo tempo, deixamos de dar tanta importância às opiniões dos outros sobre nós mesmos, visto que o nosso autoconceito está muito mais consolidado do que antes.
Idade madura
Nesta fase há uma tendência para valorizar mais a estabilidade em relação ao que foi alcançado ao longo dos anos. Do mesmo modo, o risco de isolamento devido ao declínio frequente no número de amigos Também preocupa e pode colocar em risco o bem-estar socioafetivo.