O consumo de álcool é um fenómeno socialmente aceite que, de facto, faz parte de um grande número de culturas desde a antiguidade. Porém, muitas pessoas consomem álcool de forma excessiva e prolongada ao longo do tempo e acabam ficando dependentes dessa substância: estamos falando de dependência de álcool ou alcoolismo.
Essa situação traz sérias repercussões para o sujeito, podendo causar sérios problemas de saúde ou até mesmo levar à morte. É algo dramático que muitas famílias observam em um de seus membros, sem saber como agir. Como ajudar um alcoólatra? Neste artigo vamos discutir uma série de orientações gerais que familiares e amigos podem achar relevantes e úteis na abordagem do tema.
Relembrando conceitos: o que é alcoolismo?
O alcoolismo é considerado dependência de álcool, ou seja, a aquisição de dependência física e psicológica do consumo de bebidas espirituosas que é gerado pela aquisição de tolerância ao seu consumo. O corpo necessita de maiores quantidades da substância para perceber os mesmos efeitos, enquanto sua ausência gera fortes sintomas típicos de uma síndrome de abstinência, como disforia, agitação, convulsões e outros tipos de alterações. É consumido de tal forma que se investe muito tempo na obtenção de álcool ou outras atividades ou áreas relevantes da vida são negligenciadas ou deterioradas.
Estamos diante de uma situação em que o sujeito perde o controle sobre o consumo, que é muito maior do que o pretendido e é realizado apesar do conhecimento das possíveis consequências aversivas para ele e para o seu ambiente. Porém, é comum que haja vontade de interromper o consumo e possam ter sido feitas uma ou mais tentativas para fazê-lo (sem sucesso). Apesar disso, costumam negar a existência de dependência.
O consumo descontrolado e frequente de álcool pode ter consequências dramáticas, que pode causar cirrose hepática, fígado gorduroso ou até disfunção renal. Os danos a esses órgãos podem ser irreversíveis e levar à necessidade de transplante ou até à morte devido à destruição desses tecidos. O alcoólatra fica frequentemente intoxicado, sendo comum a presença de desmaios e perda de consciência. Em alguns casos o sujeito pode chegar ao coma alcoólico ou até à morte por parada cardiorrespiratória.
O comportamento também é alterado, podendo variar da agressividade à extrema passividade, e não é incomum que ocorram comportamentos de risco durante a intoxicação. Socialmente, podem sofrer abandono do seu ambiente ou causar grande sofrimento às pessoas que os rodeiam.
Ajudando um alcoólatra: algumas orientações básicas
As famílias e o entorno próximo geralmente não sabem o que fazer para lidar com o problema., muitas vezes culpando o sujeito ou fingindo não saber ou justificar seu comportamento. Mas tais comportamentos não ajudam o paciente, mas na verdade podem complicar sua condição. É por isso que a seguir revisaremos algumas orientações para ajudar um alcoólatra, tanto para fazê-lo ver seu problema quanto para facilitar sua solução.
1. O meio ambiente deve reconhecer o problema
Em primeiro lugar, embora possa parecer lógico, o primeiro passo a ter em conta é não justificar ou ignorar o comportamento e consumo excessivo do sujeito com alcoolismo. O sujeito que sofre deste distúrbio ou doença (não é um vício, algo importante a ter em mente) consome álcool que é perigoso e tem um grande número de consequências a curto e longo prazo.
Este fato, bem como o fato de se tratar de uma doença ou distúrbio e não algo que o sujeito faz por fazer e sobre o qual tem total controle, deve ser compreendido e compreendido pelo seu ambiente imediato. É importante levar esse ponto em consideração, se o sujeito consegue identificar e reconhecer seu problema ou se não tem consciência dele.
2. Aborde o tema em um momento de sobriedade
Um aspecto que também parece lógico, mas que pode ser difícil de levar em conta quando o sujeito chega bêbado e com comportamento irracional, é discutir o tema num momento em que o sujeito está sóbrio. Discutir o assunto enquanto embriagado não terá o mesmo efeitoo sujeito não tem condições de refletir, podendo facilmente esquecer o que foi dito ou até ser possível uma resposta agressiva de sua parte.
3. Adote uma posição de ajuda e não de culpa
Pode ser fácil que a frustração e a dor causadas pela condição do nosso amigo, parceiro, familiar ou ente querido, ou pelo seu comportamento ou falta perceptível de intenção de mudar, nos levem a culpá-los pela situação. Esse fato não auxilia o sujeito, mas pode gerar reatância e a existência de conflitos que em alguns casos podem até levar o afetado a beber mais para evitar desconfortos.
Não se trata de fingir que nada está acontecendo, mas de abordar o problema diretamente, mas adotando uma atitude empática que permite abordar o tema de forma proativa e colaborativa. Também é importante ter em mente que não se deve ser condescendente ou partir de uma posição de superioridade, o que também gerará reatância.
4. Observe como você se comunica
Ligado ao ponto anterior, devemos ter em conta que estamos perante uma situação muito complexa. É necessário que possamos expressar nossos sentimentos em relação à situação que nosso ente querido está vivenciandosendo útil que nos incluamos nas frases.
A preocupação, se existir, deve ser expressada e muitas vezes é útil mencionar alguns dos comportamentos que você considera preocupantes. Expresse-se com empatia e procure buscar o diálogo, perguntando o motivo de alguns comportamentos sem ser excessivamente exigente.
5. Mantenha algum grau de controle
O sujeito com alcoolismo é alguém com profundas dificuldades em controlar a ingestão de álcool, sendo esta perda de controle o aspecto mais definidor deste transtorno. Embora não se trate de exercer um controle contínuo sobre cada gesto que você faz, é aconselhável manter um certo controle sobre a sua situação.
Uma das maneiras de fazer isso é através da gestão do dinheiro., de forma que você possa controlar o valor que o sujeito carrega e o que é gasto, e até mesmo o que depende de como. É verdade que a pessoa pode obter dinheiro de outras fontes ou até ser convidada, mas esta gestão é muito útil e limita a possível compra de álcool.
6. Evite a exposição a estímulos que geram a resposta de beber
Os seres humanos estão acostumados a fazer certas coisas em determinados lugares. Embora seja possível beber em qualquer lugar, evitar que o alcoólatra seja exposto a situações ou ambientes que facilitem o consumo É muito útil. Por exemplo, bares, discotecas ou festas são ambientes onde é comum o consumo de bebidas alcoólicas.
Além disso, também não beba na frente dela. Isso faria o sujeito pensar no álcool e ao mesmo tempo enviaria uma mensagem contraditória: quero que você pare de beber, mas eu bebo.
7. Leve em consideração o possível papel que desempenhamos no vício
Geralmente quando falamos sobre alcoolismo tendemos a pensar no sujeito em questão como aquele que tem o problema. Porém, às vezes o próprio ambiente favorece ou tem algum tipo de papel que facilita o recurso do sujeito ao consumo. Temos exemplo na referida culpabilização, em situações de abuso ou abandono ou mesmo no paternalismo excessivo.
8. Procure profissionais
O alcoolismo é uma doença grave, uma doença crónica cuja existência pode pôr em perigo a vida do doente. Por isso é fundamental ir a algum tipo de profissional para tratar os diferentes elementos que condicionam e manter o consumo de álcool. Em casos extremos, pode ser muito útil ir a um centro de desintoxicação (em alguns casos pode ser exigido até mesmo na esfera judicial, embora seja aconselhável fazê-los compreender a necessidade de comparecer).
Nesse sentido, é aconselhável ter interesse e participar ativamente da terapia, de forma que se aprenda a se relacionar com o sujeito e o sintoma e adquira diretrizes para a ação, além de fornecer apoio social para sair de uma situação que, pelo menos, difícil. Também é muito útil para fazer o sujeito refletir e motivar a mudança.
9. Apoie o seu progresso
O simples reconhecimento do alcoolismo já é um passo muito difícil para alguém com esse transtorno. E o processo de parar o consumo é longo (importante: não deve ser interrompido repentinamente, a menos que haja acompanhamento médico devido ao possível surgimento de síndromes de abstinência potencialmente fatais, como o delirium tremens) e complexo, tendo que tratar diversos aspectos, tanto comportamentais quanto cognitivos. O apoio social e ambiental é um bom fator prognóstico e um estímulo para o progresso no tratamento.
10. Incentive-o a frequentar grupos de apoio
Alcoólicos Anônimos é uma associação criada com o objetivo de servir como grupo de apoio para solucionar problemas de alcoolismo e gerar recuperação, ao mesmo tempo que permite que o sujeito conheça outras pessoas que passaram pela mesma situação. Nestes encontros a pessoa poderá expressar livremente os elementos e aspectos que não deseja ou poderá contar-nos a sua experiência e contrastar a sua experiência com a dos outros.
12. Atividades prazerosas incompatíveis com bebida
Uma forma de ajudar um ente querido a parar de beber, ou de manter as mudanças com o tratamento, é explorar e envolver-se em atividades agradáveis que não sejam compatíveis com o consumo de álcool. É aprender a se divertir sem ficar bêbado.
13. Prevenção de recaídas
Este é um aspecto fundamental em todos os vícios. O tratamento pode ser bem-sucedido, mas a existência de diferentes fatores ou situações estressantes pode causar uma recaída no alcoolismo. Por isso, como já se faz na terapia, levamos em consideração a necessidade de trabalhar a prevenção com elementos como os dos dois pontos anteriores.
E da terapia?
O exposto refere-se a formas de ajudar o alcoólatra a partir do contexto familiar ou amigo, sendo o apoio social para a retirada do álcool um dos elementos mais importantes para manter e gerar a percepção e motivação para a mudança. Mas Também na terapia psicológica são utilizados diferentes métodos ajudar o alcoólatra a parar de consumir álcool, além de controlar o desejo ou vontade de consumo. Na verdade, é importante poder fazer terapia, visto o quanto está em jogo.
Aproximadamente, A terapia se concentra primeiro em ganhar consciência do problema nos casos em que tal não exista, para posteriormente reflectir sobre os prós e os contras do comportamento de beber, reforçar a motivação para a mudança e actuar através de vários programas técnicos (que incluem a abordagem ao reforço comunitário, terapia conjugal e de casal, terapia de exposição a sinais com resposta prevenção, gestão de contingências, formação em habilidades sociais e de enfrentamento, programas de consumo controlado) e, finalmente, manter essas mudanças com programas de prevenção de recaídas.
Durante o tratamento podem ser utilizadas técnicas de vertentes teóricas muito diversas, sendo as mais comuns as cognitivo-comportamentais, sistêmicas e humanísticas. Também É comum o uso de substâncias como o dissulfiram durante o tratamento.que gera efeitos desagradáveis ao organismo ao interagir com o álcool de tal forma que seu consumo adquire uma coloração vermelha aversiva.