Através de gestos, expressões faciais e movimentos corporais dotados de função linguística, é possível transmitir e receber informações com fluidez, permitindo que pensamentos, emoções e necessidades sejam expressos de forma natural. Desta forma, as línguas de sinais são de extrema importância para a comunidade surda, pois proporcionam uma forma eficaz de comunicação.
Mas o que são línguas de sinais?
Alguns conceitos
As línguas de sinais, além de serem línguas naturais, são a língua materna dos surdos. Não está muito claro, não é? Se você não se dedica à linguagem, provavelmente o início deste parágrafo pode ter causado confusão, então primeiro é necessário entender dois conceitos: língua natural e língua materna.
Quando falamos de uma língua natural referimo-nos ao seu pertencimento, a uma variedade linguística que surge espontaneamente entre um grupo de pessoas pertencentes a uma mesma comunidade. Esta seção inclui línguas orais (como espanhol e inglês) e línguas de sinais, como a linguagem de sinais mexicana (LSM) ou a linguagem de sinais americana (ASL). Ou seja, foram criados naturalmente entre um grupo de pessoas com o único propósito de comunicar.
Por outro lado, a língua materna é aquela que foi aprendida durante a infância, tornando-se o primeiro sistema linguístico complexo que utilizamos. Com ela inicia-se o desenvolvimento cognitivo e, por isso, é considerada de grande importância na vida diária, estudantil e profissional. Ambos os conceitos podem parecer isolados, porém são extremamente relevantes no contexto das línguas de sinais.
Por si só, as línguas de sinais são sistemas linguísticos extremamente complexos, sendo línguas naturais, possuem gramática, sintaxe e vocabulário próprios; Ao contrário da crença popular, as línguas de sinais não são uma versão visual ou sinalizada das línguas faladas, mas são estruturalmente distintas. Cada país pode ter a sua própria língua de sinais com regras próprias e dentro destas também podem existir diferentes dialetos, o que é apenas um reflexo da diversidade e é algo que acontece com todas as línguas do mundo.
Além disso, as línguas de sinais são a língua materna dos surdos, sendo “o meio pelo qual eles acessam a linguagem e o desenvolvimento cognitivo, emocional e comunicativo”. Destacar esta informação representa um aspecto muito importante, pois está demonstrado que o uso da língua materna promove “melhores resultados de aprendizagem, autoestima e capacidade de pensar criticamente”. Para qualquer ser humano, aprender a língua materna nos primeiros anos de vida é vital. No entanto, ao contrário dos bebés ouvintes, as crianças surdas têm maior dificuldade em aceder à linguagem nos primeiros anos.
Tradicionalmente, a cultura é passada de pais para filhos, mas na cultura surda nem sempre é assim. Muitas vezes, as crianças são surdas e os pais são ouvintes, por isso não basta que os familiares aprendam a língua de sinais, os bebês adquirem a linguagem de forma rápida e natural nos primeiros anos de vida, enquanto o aprendizado de uma segunda língua como a do adulto é um processo muito mais lento, explica Carlos Sanchez, citado por Ortega Díaz.
A linguagem é essencial para compreender o mundo e a sociedade. Para pessoas ouvintes, aprender uma língua é automático, mas para pais ouvintes de crianças surdas, aprender linguagem de sinais requer um esforço consciente. Isto sublinha a importância de as crianças surdas terem acesso à linguagem gestual desde cedo, uma vez que é essencial para o seu desenvolvimento cognitivo e cultural.
Comunidade surda
A comunidade surda refere-se a um grupo de pessoas que compartilham uma experiência comum relacionada à surdez ou perda auditiva. Esta comunidade não inclui apenas aqueles que são surdos de nascimento ou adquiridos, mas também os seus familiares e amigos.
A comunidade surda é caracterizada pelo uso de uma língua própria, como a Língua de Sinais, que varia conforme o país ou região. Além disso, possui cultura, valores e tradições próprias. Dentro desta cultura, a surdez não é vista como uma deficiência no sentido tradicional, mas sim como uma forma diferente de viver e comunicar.
Segundo as Nações Unidas, com informações da Federação Mundial de Surdos, estima-se que existam cerca de 70 milhões de surdos no mundo, dos quais mais de 80% vivem em países em desenvolvimento, utilizando mais de 300 línguas de sinais diferentes.
A realidade é que a maioria dos surdos nasce de pais ouvintes, o que cria um desafio na transmissão desta cultura. Pois bem, embora as famílias tentem ensiná-los, a verdadeira transmissão dos valores, costumes e linguagem da cultura surda dependerá em grande parte dos outros membros deste grupo, o que enfatiza a importância da comunidade surda na educação e no desenvolvimento cultural das pessoas surdas.
Surdo, não surdo
O termo “surdo” refere-se a uma pessoa que apresenta perda auditiva, que pode variar em grau, de leve a profundo. Esta condição não define completamente a pessoa; As pessoas surdas podem comunicar de diversas maneiras, seja através da linguagem gestual ou de uma combinação de métodos. Usar “surdo” (ou “surdo” maiúsculo em algumas comunidades surdas) reconhece sua identidade e capacidade de se comunicar e participar na sociedade.
O termo “surdo-mudo”, por outro lado, origina-se de uma visão limitada, e muitas vezes errônea, das pessoas com deficiência auditiva. Assumir que alguém é “surdo” implica que não pode falar, o que não é verdade para todas as pessoas surdas. Muitos podem se comunicar verbalmente ou por outros meios. A utilização desta palavra pode perpetuar estigmas e mitos, pois contribui para uma percepção de incapacidade ou limitação dentro da comunidade, o que pode resultar em discriminação ou falta de inclusão em diversas áreas da vida, desde a educação ao emprego.
O uso de “surdo” incentiva uma compreensão mais precisa e respeitosa das habilidades e experiências dessas pessoas, pois reconhece a complexidade e a diversidade da experiência da perda auditiva, promovendo o respeito e desmontando estigmas prejudiciais.
Sinais de mudança
Apesar de ser uma cultura amplamente difundida, a comunidade surda continua a ser discriminada e isolada. Miroslava Cruz Aldrete e Edgar Sanabria Ramos esclarecem que o reconhecimento legal das línguas de sinais como línguas nacionais tem sido insuficiente para conseguir uma melhoria na vida de muitos surdos sinalizadores, o que apenas demonstra a falta de uma política linguística: no México, apenas 14% dos surdos vão à escola, 35% não estudam e apenas 4,1% têm acesso ao ensino superior.
A importância das línguas de sinais transcende a mera comunicação. São uma ferramenta vital para a inclusão e a igualdade de oportunidades para as pessoas surdas. Ao proporcionarem um meio de expressão acessível e eficaz, permitem a plena participação na sociedade, o acesso à educação, ao emprego e aos serviços públicos, bem como o exercício dos seus direitos como cidadãos. Além da sua função prática, as línguas gestuais são também um pilar fundamental da identidade cultural da comunidade surda.
E eu, como ouvinte, o que posso fazer? É essencial refletir sobre o papel das línguas gestuais na nossa sociedade e nas nossas vidas pessoais, questionar como podemos apoiar e promover a sua utilização, e o que podemos fazer para promover a inclusão e a igualdade de oportunidades para as pessoas surdas em todas as áreas. da vida. Aspectos importantes que merecem nossa atenção e ação.
Deixe um comentário