No vasto mundo da psicologia existem termos que, embora não sejam oficialmente reconhecidos nos manuais de diagnóstico, são objeto de estudo e análise há décadas. Entre eles está Síndrome da Mulher Agredida.
Apesar de não ser um diagnóstico clínico formal, este conceito oferece-nos uma ferramenta valiosa para compreender as experiências de muitas mulheres que sofreram violência de género.
Aqui explicarei o que é esta síndrome, como reconhecer os seus sinais e, o mais importante, como as mulheres podem gerir melhor as consequências da violência de género, procurar apoio e reconstruir as suas vidas.
O que é a síndrome da mulher espancada?
Síndrome da mulher espancada é um termo que descreve um distúrbio psicológico que afeta mulheres que sofreram violência de gênero. Tem sido associada ao transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e, nos últimos anos, ganhou maior relevância, principalmente no âmbito judicial, principalmente nos casos em que, após suportar anos de abuso, a mulher assassinou o companheiro.
Quando falamos de violência de género, referimo-nos a qualquer forma de abuso físico ou emocional que geralmente ocorre por parte de homens contra mulheres e que partilham ou partilharam uma relação amorosa. As consequências dessa situação são variadas, manifestando-se em emoções como tristeza, angústia e medo, além de impacto significativo no cotidiano.
Apesar do seu papel relevante no campo da psicologia forense, esta síndrome ainda não foi incorporada no DSM ou na CID. Isto se deve principalmente às inúmeras questões sobre a sua legitimidade como uma desordem genuína. Independentemente de se chegar a um consenso que permita a criação de uma nova categoria diagnóstica para esta síndrome, Está amplamente comprovado que anos de abuso físico e verbal geram problemas psicológicos nas pessoas afetadas.
Como reconhecer a Síndrome da Mulher Agredida
A psicóloga Leonore Walker, pioneira na investigação sobre este tema, descreveu um conjunto de sinais e sintomas que geralmente ocorrem em mulheres que sofreram violência de género prolongada. Estes indicadores, apoiados por pesquisas subsequentes, abrangem aspectos emocionais e comportamentais.
É importante ressaltar que nem todas as mulheres que vivenciam a violência apresentarão todos esses sintomas, e sua intensidade pode variar. Além disso, é fundamental considerar o contexto individual de cada pessoa e a complexidade das relações interpessoais. Entre os sinais mais comuns estão:
- Distúrbios emocionais: Sentimentos de medo, ansiedade, culpa, vergonha, depressão e baixa autoestima.
- Mudanças de comportamento: Isolamento social, dificuldade em tomar decisões, hipervigilância, mudanças repentinas de humor e dificuldades de concentração.
- Dificuldades nas relações interpessoais: Dificuldade em confiar nos outros, problemas de comunicação e padrões de relacionamento disfuncionais.
- Sintomas físicos: Dores de cabeça, distúrbios do sono, problemas gastrointestinais e tensão muscular.
- Mudanças na percepção da realidade: Minimização da violência sofrida, justificativa do comportamento do agressor e distorção da autoimagem.
Síndrome da Mulher Agredida: como se recuperar?
O processo de recuperação de uma mulher que sofreu violência de género é um caminho bastante pessoal, que requer tempo e apoio. É importante entender que as mulheres passam por diferentes fases nesse processo, algumas delas são:
- A negação, por exemplo, é uma resposta inicial comum, onde a vítima pode minimizar ou justificar o comportamento do agressor.
- A culpa, por sua vez, geralmente surge quando a mulher se culpa pelo ocorrido.
- A iluminação é a fase em que a vítima começa a compreender a dinâmica da violência e seus efeitos.
- Responsabilidade, em última análise, significa assumir o controle de sua vida e buscar ajuda.
Para melhor gerir a situação, é importante que sejam tomadas algumas medidas, tais como:
Exercite a autocompaixão e o autocuidado
É importante lembrar que cada mulher tem seu ritmo. Paciência e autocuidado são super necessários nesse caminho, por isso fazer atividades como exercícios físicos, meditação ou contato com a natureza pode ser muito útil para aliviar o estresse e promover o bem-estar emocional.
Busque apoio de amigos e familiares
É comum que muitas mulheres sintam necessidade de se isolar após vivenciar essas situações. Nestes casos, é mais necessário do que nunca conectar-se com pessoas queridas, em quem se pode confiar e que podem servir de apoio para enfrentar ou gerir melhor as consequências deste tipo de violência.
Frequentar psicoterapia
A terapia psicológica, principalmente com profissional especializado em violência de gênero ou com abordagem feminista, é uma ferramenta essencial. Este espaço terapêutico permite que as mulheres processem suas emoções, desenvolvam habilidades de enfrentamento e construam uma autoestima saudável.
Grupos de apoio
Além da terapia pessoal, os grupos de apoio costumam ser muito úteis para se sentir acompanhada. Compartilhar experiências com outras mulheres que passaram por situações semelhantes pode gerar um sentimento de comunidade e validar suas emoções.
Programas especializados
Existem também programas específicos, como o “Programa de Empoderamento da Terapia do Sobrevivente”, desenvolvido para fornecer ferramentas e estratégias para recuperar o controle de sua vida.