O vício é considerado uma doença física e mental, pois prejudica a química, o estado físico, os pensamentos, o comportamento e as emoções de quem o sofre. Por outro lado, faz com que você não consiga controlar seu comportamento, devido ao forte desejo que sente de consumir a substância ou realizar o comportamento viciante.
O controle que o vício exerce sobre a pessoa é tal que a faz investir muito tempo, esforço e dinheiro para satisfazer o desejo viciante. É por isso que a pessoa começa a negligenciar aspectos importantes de sua vida e a sofrer desconfortos psicológicos.
Esta doença é multifatorial, pois sofre influência de aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Em consequência, O tratamento da dependência geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar. Neste artigo descrevo a abordagem multidisciplinar no tratamento da dependência.
O que é uma abordagem multidisciplinar?
Uma abordagem multidisciplinar é aquela que utiliza adequadamente o conhecimento de diferentes disciplinas acadêmicas, por meio da colaboração de profissionais de diferentes especialidades. Seu objetivo é analisar, especificar e abordar um problema sob diferentes perspectivas simultaneamente.
Esse tipo de abordagem é amplamente utilizado nos ramos das ciências sociais e da saúde, pois múltiplas doenças, distúrbios e problemas sociais tendem a se misturar e se interligar. Nesta linha, É comum a formação de equipes multidisciplinares compostas por pessoal de saúde e/ou profissionais da área social.
Porém, é algo difícil de ser alcançado, pois exige comunicação fluida entre os profissionais, trabalho conjunto, muita organização, manter o ego profissional sob controle e aprender o mínimo de conhecimentos de outros ramos. Da mesma forma, vale a pena pelas inúmeras vantagens.
Vantagens da abordagem multidisciplinar
Esta abordagem permite-nos partilhar conhecimentos relevantes e enriquecedores para lidar com um problema ou resolver uma questão, tanto num caso específico como num projeto ou tarefa de longo prazo. Esse amálgama de informações favorece a criatividade e a inovação, bem como a prevenção de erros por ter tantos pontos de vista e disciplinas diferentes.
Além disso, Alcançam maior eficiência e eficácia, definindo desde o início objetivos comuns por diferentes profissionais. Dessa forma, eles não se atropelam, são direcionados para os mesmos objetivos e as informações fluem mais rapidamente do que se trabalhassem sem se comunicarem.
Além disso, evitam problemas por esgotamento mental dos próprios profissionais, pois distribuir os objetivos e o trabalho pode torná-lo mais prazeroso e possível. Dessa forma, sua autoestima e satisfação profissional aumentam.
A equipe multidisciplinar no tratamento da dependência
As dependências são uma dessas doenças em que se misturam problemas médicos, sociais e psicológicos, muitas vezes o ponto médio entre as duas primeiras perspectivas. Portanto, as dependências requerem tratamento com abordagem multidisciplinar, em que profissionais de diferentes disciplinas trabalham juntos para resolver o problema.
Com este objetivo são criadas equipas especializadas em dependência química, constituídas por psicólogos de saúde ou clínicos, médicos e enfermeiros, e assistentes sociais ou outros especialistas de outras profissões. Embora a dependência seja analisada com cuidado integrativo, cada profissional desempenha uma função específica.
1. Profissional de saúde ou psicologia clínica
Os profissionais psicológicos geralmente são psicólogos da saúde (que obtiveram especialização com mestrado qualificado) ou clínicos (que concluíram o PIR, ou seja, por meio de residência de 4 anos na esfera pública).
Realizam terapia psicológica, tanto a nível individual como familiar, para envolver o ambiente da pessoa para ajudá-la no problema e ser a sua rede de apoio. Seu objetivo é avaliar, identificar e mudar padrões de pensamentos, emoções e comportamentos da pessoa que sofre de dependência que criam ou mantêm o vício.
Para isso, são ensinadas habilidades, recursos e estratégias para poder enfrentar sua doença e tudo o que a causa e mantém. Ênfase especial é colocada na redução do desconforto psicológico, na prevenção de recaídas e no estabelecimento de um novo estilo de vida desejado pelo paciente.
2. Profissional do ramo da medicina e enfermagem
O envolvimento de outros profissionais de saúde é muito importante, uma vez que os psicólogos não atuam direta e imediatamente na biologia e na química do paciente. Médicos e enfermeiros podem acompanhar de perto o progresso da pessoa em relação à sua dependência, bem como avaliar e tratar problemas de saúde derivados do uso continuado de substâncias que causam dependência (como hepatite, tuberculose, HIV…).
Ao mesmo tempo, a inclusão de médicos na equipe multidisciplinar permite que sejam prescritos à pessoa medicamentos que ajudem a aliviar seus desejos impulsivos de consumir ou ter comportamentos de dependência, além de reduzir os sintomas da síndrome de abstinência. Além do mais, Esses profissionais são os mais adequados para lhe oferecer recomendações sobre como levar uma vida saudável.
3. Profissional do ramo social
Da área social podem participar profissionais de diversas disciplinas, como psicólogo social, educador social, integrador social ou assistente social. Esses profissionais possuem conhecimentos que podem permitir a reinserção da pessoa na sociedade.
Os profissionais sociais podem orientá-lo no acesso a recursos e apoios sociais, bem como associações para construir uma ampla rede de apoio.. Por outro lado, às vezes as pessoas com dependência têm problemas jurídicos, pelo que, se necessário, podem encaminhá-lo para órgãos legais e criminais para cumprir as suas acusações pendentes.
Da mesma forma, é comum que, devido ao vício, a pessoa negligencie a área de sua vida acadêmica ou profissional, de modo que abandone precocemente os estudos, muitas vezes perca empregos e tenha dificuldade em encontrar outros. Soma-se a isso o alto gasto financeiro que quase todos os vícios acarretam.
Por esta razão, os assistentes sociais geralmente fornecem informação e acesso a formação e empregos para pessoas com dependência. Afinal, os vícios são um problema comum na sociedade e, portanto, devem ser abordados com uma visão ampla. A abordagem social é fundamental e deveria haver mais mudanças a nível governamental e institucional.