Empregos em apuros: escassez de talentos e insegurança no emprego

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Nos últimos anos, especialmente após a pandemia, a escassez de talentos aumentou de forma alarmante. Embora este problema global seja multifatorial, os empregadores parecem ignorar um dos mais importantes: a insegurança no emprego.

Diana Quintero, em seu texto para Fatorial, descreve a falta de talento como a falta de profissionais preparados e que atendam aos requisitos solicitados pelos recrutadores. Quintero explica ainda que muitas das áreas com maior déficit de pessoal são aquelas em que os candidatos devem possuir competências que tradicionalmente não fazem parte dos currículos ou não são praticadas nas escolas, como autodisciplina, resiliência, trabalho em equipe, resolução de problemas e liderança, para citar alguns daqueles que o autor resgata.

Só em 2023, a escassez global de talentos atingiu o seu nível mais elevado em 17 anos: de 100 empregadores, apenas 23 conseguem preencher as suas vagas sem dificuldade. Espera-se também que, até 2030, a escassez de profissionais que possam ocupar determinados cargos totalize 85 milhões de pessoas em todo o mundo.

O principal problema é que a falta de talento retarda o crescimento das empresas, afetando diretamente a sua competitividade e rentabilidade. Mucharraz e Gónzalez afirmam também que a procura de talentos aumenta o custo da mão-de-obra qualificada a nível global.

Principais causas da escassez de talentos

A Geração Colômbia descreve a escassez de talentos como “situações em que a procura de um conjunto de competências excede a oferta disponível no mercado de trabalho”. Organizações como Generation, GD Human Capital e Organização Internacional do Trabalho listam diferentes fatores associados a esta questão:

  • Desenvolvimento tecnológico: Os avanços na tecnologia geram uma demanda por funcionários com habilidades técnicas avançadas.
  • Mudanças demográficas: O aumento da proporção de idosos está provocando inúmeras aposentadorias, resultando na falta de profissionais experientes no mercado de trabalho.
  • Concorrência e globalização: As empresas procuram sobreviver numa economia agressiva, na qual competem com a importação de bens e serviços de baixo custo, rebaixando os seus empregados a padrões inadequados.
  • Evolução na natureza do trabalho: A tendência para modalidades de trabalho, sejam elas flexíveis, remotas ou baseadas em projetos, exige novas competências dos trabalhadores.
  • Incompatibilidades na educação: Existe uma lacuna entre as competências ensinadas pelas instituições de ensino e as exigidas nos ambientes de trabalho atuais.
  • Desigualdades geográficas: A distribuição de talentos varia significativamente em todo o mundo; algumas áreas enfrentam um excedente de determinadas competências, enquanto outras enfrentam carências críticas.
  • Crescimento acelerado em certos setores: Setores como a tecnologia, os cuidados de saúde e as energias renováveis ​​estão a expandir-se rapidamente, ultrapassando muitas vezes a oferta de trabalhadores qualificados disponíveis.

Outro problema que rodeia a escassez de talentos não é apenas a falta de pessoal qualificado, mas também as condições dos próprios trabalhadores: salários e benefícios, contexto de trabalho favorável ou segurança no emprego; características que normalmente são procuradas em um trabalho. Segundo nota de Felipe Morales Fredes para O economista, O conceito de equilíbrio entre vida profissional e pessoal não abrange apenas o tempo livre, mas também a existência de condições de trabalho e salariais que permitam alcançar esse equilíbrio. No México, 61,1% das pessoas analisam este aspecto antes de aceitar uma oferta de emprego.

Desta forma, Gerardo Hernández explica que os trabalhadores procuram empregos onde possam obter flexibilidade, equilíbrio de vida e provenham de empresas socialmente responsáveis. Da mesma forma, consideram outros aspectos além do salário, como o período de férias e o ambiente de trabalho. Infelizmente, a falta deste tipo de ofertas “é um dos fatores que promovem a escassez de talento”, já que o mercado de trabalho não é assim.

Trabalho precário

A insegurança no trabalho, nas palavras do Dr. Alvarez Enríquez, “é um fenômeno multidimensional que afeta as condições de trabalho. […]refere-se às experiências de fracasso profissional vividas por não encontrar uma ocupação que corresponda aos seus anos de formação ou ao sentimento de incerteza sofrido por quem trabalha sem emprego e sem segurança social.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, está a tornar-se cada vez mais difícil encontrar um emprego que ofereça segurança, horário integral, salários dignos, bem como benefícios; Infelizmente, abundam os empregos com baixos salários e a termo, onde os funcionários são forçados a arcar com qualquer recessão nos negócios. Além disso, aponta alguns exemplos de trabalho precário retirado de um estudo espanhol:

No texto Precarização laboral e heterogeneidade ocupacional: uma proposta teórico-metodológica Rocío Guadarrama Olivera, Alfredo Hualde Alfaro e Silvia López Estrada concluíram quatro aspectos importantes relacionados a este problema:

  • Como resultado do declínio da segurança no emprego, seguir uma carreira numa profissão específica já não é a norma predominante nos planos de carreira das pessoas.
  • A distinção entre trabalhadores assalariados e trabalhadores independentes está a confundir-se.
  • Trabalhar em vários empregos é comum em muitas ocupações devido à sua natureza temporária e intermitente. Ainda assim, afecta trabalhadores de diferentes níveis de qualificação, género e idade, sendo uma condição generalizada.
  • A cobertura da protecção social é insuficiente, uma vez que não chega aos desempregados e protege parcialmente os que estão empregados.

No mesmo texto, escrito há mais de dez anos, os autores já afirmavam que é esta insegurança laboral que “causa incerteza e impede a criação de um projeto de vida a longo prazo e de condições de plena autonomia”.

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Ocupação e Emprego, no México a insegurança no trabalho registou o seu nível mais baixo numa década, no entanto, isto significa que mais de 17,9 milhões de pessoas são afetadas por esta situação. Os trabalhadores que vivem em situação precária, profissionalmente falando, estão mais sujeitos a situações vulneráveis ​​como a pobreza laboral e o isolamento social. Promover a insegurança no trabalho é cruel e contraproducente, por isso é necessário considerar a importância de um ambiente de trabalho seguro e estável para o bem-estar e o desempenho ideal dos colaboradores.

Um estudo conduzido por Mindy Shoss e outros pesquisadores revela que alimentar o medo de perder o emprego tem consequências negativas. Com base em inquéritos envolvendo 600 trabalhadores americanos, descobriram que a insegurança no trabalho causa stress, frustração e exaustão, compensando qualquer melhoria no seu desempenho. Os trabalhadores inseguros tendem a concentrar-se em destacar as suas contribuições e podem sabotar os seus colegas; criando um ciclo que aumenta a sensação de incerteza.

Maneiras de combater a escassez de talentos

Num dos seus estudos, o ManPowerGroup explica as diferentes formas como diversas empresas têm tentado lidar com esta situação:

  • Oferecer treinamento e desenvolvimento do próprio colaborador.
  • Altere os requisitos de educação e/ou experiência.
  • Procure talentos longe das bolsas tradicionais.
  • Melhore as condições de trabalho dos seus futuros funcionários.
  • Fornecer pacotes de remuneração.
  • Ofereça modelos remotos e/ou flexíveis.

Contudo, estudos indicam que há empresas que não querem ou não tentam resolver este problema. Concluindo, a pesquisa sugere uma nova estratégia de talentos que consiste em quatro partes: criar, atrair, compartilhar e transformar.

“Não sabemos como serão os empregos do futuro, mas podemos assumir com segurança que as pessoas com desejo e capacidade de aprender, que são mais inteligentes, têm mais competências sociais e são mais trabalhadoras, estarão em melhores condições para executá-los”.

Dr. Tomas Chamorro-Premuzic, cientista-chefe de talentos do ManpowerGroup.

Da mesma forma, a Geração Colômbia também propõe reinventar os processos de contratação, melhorar as qualificações daqueles que já são funcionários da empresa, bem como abrir-se à diversidade e à inclusão laboral, destacando que a colaboração com diferentes instituições educacionais e programas de emprego são essenciais para lidar com esta circunstância.

Torna-se importante, então, repensar o processo de contratação; Segundo Rand Ghayad, do Fórum Econômico Mundial, só nos Estados Unidos, não ter diploma universitário elimina automaticamente 64% dos candidatos. No entanto, ao concentrarem-se nas aptidões, aptidões e competências, em vez de nos resultados académicos, os empregadores em sectores desafiantes podem colmatar eficazmente a lacuna de talentos, oferecendo ao mesmo tempo mais possibilidades àqueles que procuram melhorar as suas oportunidades de carreira.

O papel da universidade

Embora a escassez de talentos seja um problema real enfrentado por recrutadores e empresas em todo o mundo, as instituições de ensino superior e diferentes organizações civis têm procurado formas de resolver estas dificuldades. Pois bem, como salienta Irving Alemán, uma das soluções para este fenómeno está nas mãos das universidades, pois delas depende a formação dos futuros trabalhadores.

Portanto, torna-se imprescindível que as instituições de ensino superior formem profissionais em diversas áreas, distantes das áreas humanas e administrativas que sofrem com a superlotação, o que evidentemente afeta sua qualidade de vida ao se formarem.

Mirielle Eaton, para o Fórum Económico Mundial, também destaca o papel das universidades: é importante considerar como devem adaptar-se para responder às novas necessidades da sociedade. Ao que ele aponta três aspectos importantes.

Diferentes universidades e associações optaram por credenciais alternativas, sejam MOOCs, programas de ciclo curto, campos de treinamento ou outros, têm em conta as competências, aptidões e resultados de aprendizagem que são adquiridos através de atividades que não estão necessariamente ligadas à obtenção de um diploma universitário ou profissional, mas baseiam-se na avaliação e ajustam-se às necessidades específicas e atuais do trabalho. mercado.

Associações como Generation, YouthBuild, Laboratoria e International Youth Foundation, para citar algumas, oferecem programas que servem como alternativa para a aquisição de competências que favorecem o acesso a empregos de qualidade. aqueles que não têm oportunidade de estudar em um nível superior ou desejam se formar em uma nova área.

Além disso, a sua participação e colaboração constante com as empresas permite-lhes adaptar os seus programas às necessidades dos mercados de trabalho, o que beneficia ambos os participantes: o empregador preenche as vagas com pessoal qualificado e o trabalhador obtém um emprego digno.

Este tipo de iniciativas são de grande ajuda para contrariar este problema, mas cabe também a estas instituições, para além de apenas procurarem alternativas, estarem atentas às necessidades dos seus diplomados.

O caminho a seguir

Hernandez explica que é obrigação das empresas se reinventarem para serem mais atraentes para seus colaboradores, como comentou Mónica Flores em entrevista: “Temos que mudar esse pensamento de que só pagando um salário você já tem os melhores talentos. O salário ainda é importante, mas também os benefícios, a flexibilidade, a inspiração, o propósito. O salário é importante, mas não basta, há muitas outras coisas que o talento valoriza e procura.”

Num mundo de trabalho tão competitivo, a principal tarefa das empresas é atrair e manter talentos, flexibilidade, salários competitivos, bem como possibilidades de crescimento podem ser o começo para contrariar a tendência; sem perder de vista o investimento na aprendizagem e no desenvolvimento de talentos.

De acordo com Miguel López, será mais fácil para as empresas atrair talento uma vez que consigam melhorar as condições dos seus colaboradores, o que também promoverá a sua retenção. Por outro lado, a maioria dos perfis atualmente exigidos possui formação técnica superior e nem sempre exige formação universitária.

Dr. Tomas Chamorro-Premuzic Cientista Chefe de Talentos do ManpowerGroup afirma que, independentemente das qualificações que qualquer profissional tenha, existem habilidades não técnicas que são necessárias para ter sucesso. No entanto, cabe também aos governos travar o aumento desta tendência, uma vez que é também da sua responsabilidade reduzir o desemprego e a assistência social, bem como regular os horários de trabalho, o terceirização e salários mínimos.

Ambos os problemas são reais e todos os dias parecem surgir novos obstáculos. Por isso, é importante que tanto as empresas como os colaboradores priorizem a atualização e aquisição de competências, processo que deve ser sempre acompanhado de melhores condições para os trabalhadores.

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