O suicídio é uma das causas mais comuns de morte não natural e traumático, fazendo um grande número de vítimas todos os anos. É um tipo de comportamento autodestrutivo que preocupa o ser humano desde a antiguidade, gerando pesquisas aprofundadas sobre o assunto em áreas como a psicologia ou a medicina, buscando as causas e formas de evitar que o ser humano busque ativamente a própria morte. Mas esse tipo de comportamento não foi observado apenas em humanos.
Numerosos casos foram documentados de animais que de alguma forma causaram a sua própria morte. Essas mortes são produto da vontade de morrer? Existe suicídio em animais? Neste artigo faremos uma breve reflexão sobre este assunto.
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causar a própria morte
O suicídio é entendido como a realização de um comportamento ou uma série de comportamentos que Eles pretendem causar a própria morte. Geralmente, quem o realiza tem a intenção de evitar o sofrimento numa situação para a qual não dispõe de recursos suficientes, embora os motivos pelos quais alguém decida tirar a própria vida possam ser múltiplos.
O suicídio é uma ação que envolve a vontade do próprio ser de provocar o fim da existência, com a intenção ativa de que o comportamento emitido leve à morte. É preciso levar em conta o conceito de morte, saber que podemos morrer e que temos a capacidade de autogerá-la. Portanto Envolve um certo nível de abstração e também planejamento. Supõe também a existência de um ego que quer morrer, ou seja, de algum tipo de autoconsciência de si mesmo como ser.
Esses aspectos muitas vezes fazem com que os especialistas duvidem da possibilidade de o suicídio existir ou não no mundo animal, pois não há evidências de que possuam todas essas capacidades. Foi observado que múltiplas espécies reagem à morte dos seus semelhantes com angústia e arrependimento, mas não se sabe se estão conscientes da sua própria mortalidade e que o seu comportamento pode levar a ela.
Existem casos de suicídio em animais?
Existem numerosos casos de suicídios de animais ao longo da história, ou pelo menos fenómenos que foram identificados como tal. Desde a antiguidade, podemos observar como diferentes escritos documentam a morte de cães por fome após a morte de seus donos (algo que continua a acontecer até hoje).
Em tempos mais recentes, em 1845, foi publicado um caso no Illustrated London News em que um cão, que anteriormente apresentava sinais de declínio de comportamento, saltou para a água de um parque sem intenção de nadar, deixando as patas ainda com a suposta fim do afundamento. O cachorro foi resgatado, mas depois tentou novamente. Depois de várias tentativas, o cachorro finalmente afundou e morreu. O mesmo tipo de comportamento foi observado em outros animais, como patos ou pinguins que perderam seus companheiros ou golfinhos que eles pararam de respirar (nestes seres a respiração não é semiconsciente como em nós, mas consciente e voluntária).
Outro exemplo típico é o dos lemingues., dos quais foi documentado um suposto suicídio em massa quando há superpopulação. No entanto, a verdade é que este suicídio em massa não é tal, mas é algo que pode ocorrer acidentalmente quando estes animais tentam migrar em massa para áreas com disponibilidade de alimentos e encontram diferentes características geográficas. Estariam tentando encontrar comida, avançando com esse propósito e não com a ideia de se matar. Na verdade, especula-se que na realidade a imagem que todos temos destes roedores caindo de um penhasco era uma montagem, sendo a sua fiabilidade pouco clara.
Finalmente, a morte de baleias encalhadas na praia também é considerada por muitos como suicídio, embora possa ser causada por doenças.
Mortes autogeradas
Independentemente do que consideramos suicídio ou dos valores que os animais podem praticá-lo ou não, a verdade é que há evidências de que vários seres vivos praticaram diferentes ações que levaram à própria morte.
O exemplo mais claro e conhecido é o caso de muitos animais de estimação que, após a morte do seu dono, eles param de comer até morrer de fome. Esse tipo de comportamento é observado desde a antiguidade, com histórias referentes a essa reação em animais.
O mesmo às vezes acontece com alguns animais selvagens, que agem dessa forma devido à morte do parceiro. O luto pela morte de um ente querido também pode causar sérios danos psicológicos nos animais, sendo documentada a presença de sintomas ansiosos e depressivos em diferentes espécies. Como consequência desse fato, perdem o apetite. No caso de animais de estimação muito próximos do donoforam relatados casos em que eles permaneceram próximos ao seu túmulo até a própria morte.
Outro comportamento desse tipo é encontrado em animais em cativeiro e/ou em situação de alto estresse. Especificamente, muitos animais cometem diversos atos autolesivos que podem acabar causando danos graves ou até a morte. Um exemplo são os golpes que diferentes cetáceos dão contra as margens do seu recinto.
Outro tipo de morte autogerada em animais é aquela utilizada para proteger outro ser, geralmente a prole da criatura. Por exemplo, o progenitor pode servir de distração para que seus filhos fujam ou atacar o agressor para defendê-los, mesmo que isso possa causar a morte. Porém, neste caso não se trata de suicídio em sentido estrito, pois o objetivo não é morrer, mas proteger o outro mesmo à custa da própria vida.
Você também pode encontrar animais que geram sua própria morte através de mecanismos de defesa biológica. Por exemplo, existem alguns tipos de formigas que na presença de inimigos ficam tensas e provocam o rompimento de certas glândulas que acabam fazendo seu corpo explodir. Esse tipo de suicídio termina com a morte do inimigo ou predador, mas também do próprio sujeito.
Finalmente, sabe-se que alguns parasitas e fungos gerar comportamento suicida em diferentes animais. É o que acontece com as formigas diante de diversos fungos do gênero Cordyceps, que acabam procurando o caule de uma folha para mordê-la e aguardam a morte enquanto o fungo se desenvolve. Neste caso estaríamos falando de um suicídio induzido, em que o animal não planeja nem quer realmente morrer. Outras bactérias geram comportamentos que podem levar ao comportamento suicida, como aproximar-se ou perder o medo de predadores.
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Argumentos de quem defende sua existência
Até alguns séculos atrás, grande parte da população considerava que apenas o ser humano era autoconsciente, capaz de pensamento abstrato e reflexão. Portanto, sob esse tipo de pensamento estaríamos diante da única espécie animal que seria capaz de causar a morte voluntária e conscientemente.
No entanto, a pesquisa mostrou que este não é o caso. Macacos, golfinhos, corvos, papagaios, ratos e outras espécies demonstraram em diferentes experimentos possuir habilidades que vão além do mero instinto.
Existem várias espécies que manifestaram a capacidade de se identificar, como ocorre com primatas e golfinhos, e que manifestam capacidade de ficar deprimidos e ansiosos (algo visível em animais de estimação e em cativeiro, mas também em animais selvagens). Também demonstraram sinais de inteligência e capacidade de sequenciar ações, bem como de se comunicar (há até casos de animais que aprenderam a linguagem de sinais) e de estabelecer planos.
Também foi constatado que muitos animais conseguem chegar à compreensão de que suas ações podem ou não ter efeito nas situações que vivenciam. Um exemplo amplamente conhecido ocorreu nos experimentos que originaram a teoria do desamparo aprendido, realizados com cães que, ao se depararem com choques elétricos dos quais originalmente não conseguiam escapar, deixaram de tentar evitá-los mesmo quando em outra situação só precisavam se movimentar. para o outro lado da gaiola.
No entanto, não se sabe se eles têm as mesmas capacidades de imaginação, projeção futura e nível de abstração que os seres humanos, ou um nível suficiente que lhes permitiria tornar-se capazes de provocar a própria morte.
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Argumentos daqueles que negam sua existência
Aqueles que consideram que os animais não têm capacidade para cometer suicídio consideram que os comportamentos associados à autólise são, na verdade, involuntários, sem intenção de realmente tirar a própria vida como tal.
A automutilação mencionada acima, por exemplo, poderia ser explicada como uma automutilação que visa alterar estados de ansiedade ou estresse, ou buscar libertar-se de algum tipo de sofrimento (o que por outro lado os torna semelhantes aos principais motivos que geralmente levam ao suicídio). A morte por fome pode ser causada pela dor, mas isso não implica que haja vontade de morrer. Neste caso propõe-se que o sofrimento e a dor vivenciados ocupam a mente do animal, fazendo você esquecer de comer. O suicídio como mecanismo de defesa seria uma reação instintiva e emocional que não buscaria realmente a morte, mas sim a defesa da colônia ou da prole.
Por fim, o caso de infestação por parasitas ou fungos não está relacionado a um desejo de morte, mas sim a uma morte causada por fatores externos, o que não seria considerado suicídio.
Uma conclusão realista
Muitos dos casos documentados de animais que causaram a própria morte apresentam uma série de características que podem colocar em dúvida a validade de considerar tal ação um suicídio ou não.
É inegável que alguns animais causam ativamente a sua própria morte, mas é muito mais difícil determinar se suas ações são realmente motivadas pelo desejo de morrer. Neste sentido, a ciência ainda não foi capaz de determinar este facto de forma confiável, e ainda não existem dados suficientes para afirmar ou negar que os animais tenham a capacidade de cometer suicídio com plena consciência de que o fazem.
Referências bibliográficas:
- Preti, A. (2007). Suicídio entre animais: uma revisão das evidências. Relatórios Psicológicos, 101 (3): 831-848.